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CIDADE & REGIÃO

30/10/2012

Sem ele a história de Penápolis não é verdadeira!

Arquivo Pessoal
Detalhes Notícia
José Aparecido de Jesus tocando sua guitarra

por Walter Miranda 

 

O querido e saudoso José Aparecido de Jesus, apelidado de Borracha, foi identificado como um músico muito conhecido e reconhecido em Penápolis e em diversas outras cidades brasileiras, e até mesmo no exterior, nas décadas de 60 e 70. Segundo informado por sua sobrinha, Maria Lúcia de Jesus Viana, esse músico penapolense participou, em 1972, de uma "turnê" por alguns países da América do Sul, integrando um conjunto musical bastante conhecido à época. Aprendeu a tocar violão com seu pai, outro excelente músico, e guitarra com o ex-jogador do CAP João Davi, que tocava na Banda "Os Cometas" de São José do Rio Preto, no ano de 1965. Na época predominava o Rock and Roll, e foi com João Davi que o adolescente músico aprendeu o suing e a batida sincopada deste lindo ritmo.

O jovem Borracha foi o antecessor e professor de muitos jovens penapolenses na condição de músico violonista. Filho de Adelino Aparecido de Jesus e Iraci Felix de Jesus, de origem pobre, Borracha nasceu no ano de 1950 e faleceu no dia 17 de junho de 1993. Ainda adolescente, no ano de 1967, recebeu em doação do Frei Fernando Fachini, religioso franciscano, então vigário cooperador de Penápolis, uma linda guitarra. O bondoso frade entendeu a condição econômica daquele humilde e discriminado jovem negro e o presenteou com um dos mais cobiçados instrumentos da época.

O Frei Fernando, um religioso muito alegre, violonista, cantor com voz de tenor, regente de coral, tinha programas radiofônicos nas Rádios Clube de Penápolis e Cinqüentenário de Birigui, com grande audiência regional. Neles o jovem Borracha demonstrava a sua habilidade musical tocando e cantando junto com o bondoso frade, nascido no dia 28 de maio de 1918, falecido vitima de ataque cardíaco no dia 18 de julho de 1993, um mês antes da morte do Borracha.

O apelido "Borracha", segundo seu tio José Levino de Jesus (o popular "Teleco", ex-operador de projetor de filmes no então Cine São Joaquim), teria sido atribuído a ele porque literalmente não andava como os demais. Caminhava como se estivesse andando nas nuvens e apresentava elasticidade e expressão corporal própria, como se marcasse um compasso musical, dentro e fora do palco. Vivia e vibrava na cadência da música onde quer que estivesse. Nunca vi em Penápolis alguém mais parecido como ele neste aspecto.

O jovem músico desfilava com elegância pelas ruas da cidade, trajando frouxas camisas coloridas de mangas longas, calças boca-de-sino coladas ao corpo e calçando um par de botinhas, como era o costume da época, agarrado ao estojo do seu instrumento por onde andava. Usava cabelo estilo "black power", exatamente como os revolucionários negros americanos, então conhecidos como Panteras Negras. Como em Penápolis não existia cabeleireiro especializado em cortes afros, o Borracha ia a Bauru aparar os cabelos.

Borracha foi músico de diversas Bandas em diversas cidades. Foi guitarrista da famosa Orquestra do Milton Pavezzi, de Lins, aonde permaneceu três anos. Em Penápolis integrou as Bandas "Os Platônicos" e "Os Invictos" e os "Supras" da cidade de Avanhandava, composta pelo Ailton, Egrimar, Mirão e Edinho Vieira. Sua primeira Banda, cujo nome não consegui identificar com clareza, foi formada em parceria com o Zé Elias, Manoel Ferreira (Reco) e Toninho Boca. Segundo Expedido Pedroso (Sete), não possuíam guitarras, mas violões com captadores.

Estou escrevendo um livro que, provisoriamente, denomino "Eles também fazem parte da história". Nele pretendo retratar, com a maior fidelidade possível, a saga das famílias negras e pobres, que exerceram papéis importantes na economia e vida social da cidade, mas que infelizmente nunca, ou raramente, foram citadas na história oficial, por não terem pertencido à elite intelectual e rica da cidade.

Agradeço o meu amigo Expedido Pedroso, o popular "Sete", pela ajuda nas pesquisas. É dele boa parte das informações contidas neste artigo. Sem falar do saudoso José Aparecido de Jesus (Borracha), a história de Penápolis deixa de ser verdadeira! 

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