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CIDADE & REGIÃO
21/01/2007
Destaque: Penapolense integra Centro de Nanobiotecnologia na UNB
Zulmira Guerrero Marques Lacava, bióloga com especialização em genética e imunologia, integra o Centro de Nanociência e Nanobiotecnologia da UNB (Universidade de Brasília), onde iniciou carreira acadêmica. O Centro é formado por redes de pesquisa das quais participam profissionais como físicos, químicos, farmacêuticos, biólogos e médicos não só do Brasil como de outros países. Entre outros focos, estão pesquisas que podem ajudar no tratamento de doenças como o câncer.
Filha dos penapolenses Fernando Costa Marques e Ana Josefa Guerrero Marques, a pesquisadora nasceu na cidade de São José do Rio Preto, mas considera Penápolis como cidade natal por ter chegado ao município ainda criança, tendo sua formação na Escola Dr. Carlos Sampaio Filho.
A estudante deixou a casa dos pais no ano de 1970 com o intuito de cursar Biologia em Brasília, onde se especializou em Biomedicina, fez mestrado em Biologia Molecular e doutorado em Genética e Imunologia. Prosseguiu os estudos sobre Biologia Molecular em Chicago e sobre Metabolismo Celular na USP de São Paulo.
Em férias dos inúmeros trabalhos, Zulmira esteve em Penápolis e falou à Reportagem do Diário sobre seus objetos de estudos e os avanços das pesquisas brasileiras nas áreas de nanobiotecnologia, que integra os conceitos de nanociência e nanotecnologia. Ela contou que, em 1986, iniciou seus estudos na UNB com foco em genética do envelhecimento, ao qual dedicou-se por 12 anos, até ser convidada para trabalhar com materiais nanoestruturados. “A nanotecnologia consiste na manipulação da matéria em escala nanométrica, ou seja, uma escala equivalente a um bilionésimo do metro, onde os átomos revelam características peculiares, como tolerância à temperatura, reatividade química e condutividade elétrica”, explicou ela, “Por isso, sua aplicação estende-se desde a indústria à medicina e meio ambiente”, disse.
Desde 1998, o foco das pesquisas baseia-se em fluídos magnéticos compostos por partículas nanométricas, cuja experimentação é fazer com que eles auxiliem na condução de drogas que ajudam a combater doenças como Aids e câncer. “Desenvolvemos ainda materiais na área de meio ambiente com resultados absolutamente fantásticos, capazes de retirar, por exemplo, petróleo derramado no mar”, comentou Zulmira.
Câncer
Devido ao comportamento magnético dos líquidos, a pesquisadora explicou que a substância pode ser injetada dentro de um organismo vivo e ser conduzido para um alvo por um imã externo. Ela citou como exemplo o tratamento de um câncer no fígado, que atualmente exige altas doses de medicamento que acaba destruindo células saudáveis. Com o novo procedimento, por enquanto em fase de testes sub-clínicos, feitos em animais, a medicação é conduzida para o lugar específico da célula tumoral, reduzindo os efeitos adversos. “Esta é uma das grandes conquistas dessa forma de terapia”, comentou a pesquisadora. “Além disso, esta partícula, dependendo do campo magnético colocado externamente, pode vibrar, aumentando a temperatura, e destruindo só as células onde elas estão ligadas”, revelou. Neste caso, pode-se dispensar o processo quimioterápico em substituição à partícula magnética, fazendo com que a célula tumoral seja reconhecida e destruída apenas com o calor. “Esta idéia já está bem avançada. Os testes em camundongos com tumor apresentam resultados promissores”, declarou.
Fotodinâmica
Outra face deste tratamento é o estudo específico contra o câncer de pele, já aplicado em testes no hospital em Brasília e que gera mais de 90% de possibilidade de cura do câncer. Trata-se da terapia fotodinâmica, que consiste no desenvolvimento de um medicamento colocado sobre a lesão da pele cancerígena e que, após ser absorvido pela célula tumoral, se transforma em substância sensível à luz. “Só as células cancerígenas absorvem este material e sob uma luz ultravioleta conseguimos ver exatamente onde elas estão”, disse.
Este processo é feito longe da luz e depois a área é submetida a um lazer, que gera os produtos capazes de destruir as células doentes.
Zulmira contou que esta terapia é utilizada há cerca de 20 anos nos EUA e que os estudos em Brasília repercutiu no Ministério da Saúde, que solicitou um projeto a ser aplicado em todo o país. “O órgão pede urgência e acredito que em fevereiro já esteja entregue”, comentou ela, que acredita ver o tratamento aplicado na rede do SUS já nos próximos quatro anos. “Esta é uma terapia super fácil, não requer anestesia nem que os pacientes fiquem hospitalizados, não causa dor, não deixa cicatriz, enfim, são inúmeras as vantagens”, afirmou a pesquisadora.
Reconhecimento
Zulmira viaja por diversos países para ministrar palestras, uma vez que as pesquisas desenvolvidas no Centro são de repercussão mundial.
Questionada sobre os incentivos por parte do governo brasileiro, ela revelou que, apesar dos atrasos com relação a conscientização da importância de pesquisas como esta, atualmente os investimentos têm sido suficientes. “Tínhamos dificuldade para comprar equipamentos e drogas, mas a partir do momento em que começamos a ser convidados por outros países, deu-se mais atenção a esta área”, revelou, “Muitos profissionais ainda não trabalham por falta de campo, mas o interesse em manter estas pessoas fazendo pesquisas é crescente”, disse Zulmira.
A pesquisadora salientou ainda sentir-se orgulhosa por ver parte dos estudos chegar à prática dos hospitais. “Começamos com este Centro em 1998 e já estamos aplicando os tratamentos. Para a ciência, este prazo é pequeno e representa um grande avanço”, comemorou ela. (AR)
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