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27/05/2018

CANTINHO DA SAUDADE

Imagem/Arquivo Pessoal
Detalhes Notícia

Memórias do Carboni: Educação no trânsito e bom proveito

Há alguns anos atrás, logo que surgiu o novo Código Brasileiro de Trânsito, eu estava pedalando minha velha bicicleta pelas ruas da cidade, quando a uns trinta metros de um cruzamento apontou um veículo, que fez a parada obrigatória, visto que a rua em que eu estava era preferencial. Eu ia bem devagar e daria tempo de sobra para o citado veículo cruzar a rua, mas ele não se moveu um centímetro sequer, cedendo a passagem para mim. Por um momento eu me senti uma pessoa muito importante, valorizado pelo Código de Trânsito recém lançado e que prometia por ordem no já conturbado trânsito brasileiro. Ordem num trânsito maluco, onde é difícil encontrar um motorista educado, num trânsito onde todo mundo só briga por direitos, mas se esconde quando se fala em deveres, num país onde as leis de trânsito são fracas e só protege o infrator que fica andando solto pelas ruas e até continua dirigindo enquanto as vítimas ficam presas em cadeiras de rodas, muletas ou embaixo da terra. Por fim, num país onde um grande número de pessoas dirige sem compromisso com a própria vida e muito menos com a vida dos outros, só mesmo um novo Código mais rigoroso para por ordem nas ruas. No caso que estou narrando, eu poderia supor duas situações: ou o novo Código impunha mesmo medo e respeito ou então eu tinha encontrado um motorista educado que respeitava um mero ciclista. Eu já estava prestes a fazer um sinal de agradecimento à bela motorista que estava ao volante do citado veículo, quando uma forte buzina tocou as minhas costas estremecendo o ar e quase me derrubando da bicicleta. Logo em seguida uma densa fumaceira e um grande ronco de motor emparelharam-se comigo, desfazendo meus pensamentos e impressões, pois foi quando eu descobri o verdadeiro motivo da educação daquela motorista: uma carreta de 22 pneus e carregada de barras de ferro, indo na mesma direção que eu. Numa outra ocasião, só não posso precisar exatamente o ano, só sei dizer que era dezembro, eu e o colega de equipe, João Carlos, resolvemos dar uma volta pela cidade sem ter ao certo um local definido para ir, apenas perambular pelas ruas, como era comum o pessoal da equipe fazer. Passando ao lado do antigo Mercado Municipal, vimos uma fruta nos degraus da porta de uma das lojas e chegando mais perto constatamos tratar-se de uma jaca madura e em boas condições de consumo. Resolvemos saborear tão apetitosa iguaria e sentados ao mesmo degrau em que a encontramos comemos metade dela que não era tão grande. Eu queria colocar no lixo a metade que sobrara, mas o João opinou que o melhor seria deixá-la no mesmo lugar onde fora encontrada, pois poderia servir de alimento à outras pessoas, que eventualmente por ali passassem, tal qual acontecera conosco. Concordei com ele e após deixarmos a fruta no chão, seguimos em direção ao centro da cidade. Depois de algumas horas resolvemos voltar para casa e ao passarmos de novo ao lado do Mercadão, vimos um andarilho sentado no mesmo local em que estivemos horas antes, saboreando a outra metade da “nossa” jaca. É claro que ficamos contentes ao ver que o palpite do João fora acertado, contribuindo para que um necessitado mitigasse sua fome.

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