CANTINHO DA SAUDADE

Memórias do Carboni: O lobo e o cordeiro

Praticamente todo mundo conhece a fábula infantil do lobo e o cordeiro, que se aprende ou pelo menos se aprendia na escola. É uma espécie de parábola dizendo que quando uma pessoa quer atazanar alguém, ele faz mesmo, apesar dos mais esdrúxulos motivos alegados. Um lobo bebia água em um regato, sendo que um cordeiro fazia o mesmo, só que um pouco mais rio abaixo. Só para ter um motivo para acabar com o sossego e até a vida do cordeiro, o lobo alegou que o cordeiro estava sujando a água dele sendo que ele sim estava sujando a água do cordeiro e o resultado final da história já é bem conhecido. Só que aqui no Brasil esta história passou da ficção à realidade. O que está acontecendo atualmente em nosso país reflete exatamente a estória com os seguintes atores: o lobo está sendo magnificamente interpretado por nosso presidente; o regato para beber água é o Brasil e o cordeiro também está sendo bem interpretado pelo povo, ou seja, nós todos. A estória real começa com todos os personagens vivendo tranquilos a beira do regato Brasil. Era uma época de razoável progresso, mas não sei porque cargas d’água, o lobo cismou que a vida com progresso e sem preocupações era muito enfadonha e resolveu dar “um agito” e mudar a situação. Começou a mexer daqui e a mexer dali, tomando decisões erradas e escabrosas, que a água do regato Brasil começou a sujar. De nada adiantavam os conselhos dados por pessoas mais sensatas e os erros continuavam e a água cada vez mais suja. Para complicar ainda mais a situação, o lobo não agia sozinho, pois contava com a colaboração de uma grande alcateia disfarçada de senadores, deputados, ministros os mais variados, diretores de estatais e empresários, cuja avidez e perversidade rivalizavam com a do “chefe”. E tanto pularam e bagunçaram dentro do regato Brasil que a lama e o lodo se desprenderam do fundo e aí sim foi que a água ficou tão suja que o cordeiro povo, mais abaixo, ficou sufocado com sede, fome, falta de energia e outros apertos. O incrível foi que mesmo enlameado e sujo devido a festança que faziam no regato Brasil, o cordeiro povo ainda levou a culpa pelo fato de as coisas desandarem e reagia timidamente dizendo que não tinha culpa nenhuma. “Tem sim” reagia a alcateia. “Vocês querem trabalhar cada vez menos e ganhar cada vez mais”. Também alegaram que o cordeiro povo gastava demais comprando carro, moto, eletrodomésticos em geral, mas não admitiam dizer que fora o lobo mesmo que os incentivara esse procedimento sem nenhum planejamento. Como a coisa não deu certo devido a sujidade em que se transformou o regato Brasil, era preciso achar um culpado e como eu disse anterioremente, sobrou para o cordeiro, que nunca teve nada a ver com os desmandos. Começaram então a chegar ao cordeiro povo, contas e obrigações cada vez maiores (a maioria irregulares e ilegais) para ajudar na limpeza da água. O cordeiro contribuía, mas a água ainda permanecia suja, pois a alcateia não saía de dentro do regato Brasil. Ao mesmo tempo que os salários tinham seus valores defasados, os impostos e taxas de tudo que se pode imaginar eram majorados e por isso quanto mais o cordeiro pagava, mais ficava devendo. Na ficção, o cordeiro tinha medo do lobo, mas e na realidade o que acontece? O cordeiro povo parece que aos poucos vai perdendo o medo, só que por enquanto o rebanho está algo desorganizado, já que tem uma parte que tem medo de perder certos benefícios. É que o lobo governo é perverso, mas não é bobo e de vez em quando ficava ressabiado e começa a distribuir bolsa família, bolsa presidiário e demais bolsas disso, bolsa daquilo, que é o que está segurando a barra dele por enquanto. No dia em que todos os cordeiros se unirem, aí sim haverá uma grande revolução, não de armas ou sangue, mas sim uma revolução nas urnas nos dias de eleição. Isso forçará a mudança da alcateia para fora e bem longe do regato Brasil, que aí sim terá suas águas novamente limpas e suas margens prazerosas de morar e viver. A foto mostra como era limpo o regato Brasil, antes dos lobos chegarem.