05/11/2011

Solonei e as emoções da Maratona no Pan

Saímos da vila pan-americana por volta das 06h30min da manhã para a largada da prova, estava muito ansioso pelo tiro de largada, pois já estava vivendo o espírito dos jogos a uma semana; vendo os outros atletas comemorando suas vitórias@e também outros chegando e se lamentando com as derrotas de uma prova não bem sucedida. Ao chegar no local da prova, estava muito focado e fixei meu olhar como uma fera que espreita sua presa. Mas ao mesmo tempo, me encontrava muito apreensivo, com certa angustia me sufocando.

Enfim, chamados os atletas para se perfilarem, ali estava eu, SOLONEI, alguns anos atrás um simples coletor de lixo, que tinha como ambição maior ter uma vida tranqüila e feliz, pois até então, não tinha a mínima pretensão de sair da minha cidade natal, PENÁPOLIS, pois isto me satisfazia por completo.

Por um segundo tudo isto passou pela minha mente, e ao me recordar das inúmeras dificuldades e incertezas, que só foram vencidas com muito esforço e sacrifício, não consegui segurar a emoção e os soluços me tomaram e lágrimas me escorreram pelo rosto. A chamada dos atletas me trouxe de volta à realidade, e ainda com lágrimas pelo rosto, dei uma respirada bem profunda, pois não podia perder o foco nem mais um segundo e aguardei ansioso o chamado pelo meu nome, para me posicionar na linha de largada de uma das provas mais tradicionais do mundo, lugar antes inimaginável e que agora se encontrava a apenas alguns passos do "lixeiro" Solonei.

Os atletas começaram a serem chamados um a um, o que só aumentava minha ansiedade, quando já estava a ponto de explodir e só restava eu e os mexicanos para serem chamados, ouvi o que tanto esperava: Solonei Silva... do BRASIL!!!

Todos perfilados, a emoção à flor da pele, e eu ainda pensando nas dificuldades que com certeza enfrentaria na disputa por medalha na prova, fui arrancado de meu devaneio com o estampido do tiro de largada.

E como se fosse num simples toque de mágica, tudo sumiu, pois agora estava na minha "praia", com (sangue nos olhos) e esta era a minha hora e de mais ninguém.

Queria mostrar a força do brasileiro, e com largas passadas fui um pouco para frente, na finalidade de sentir o ritmo da prova, que não era muito forte ainda, pois a maioria prefere cadenciar no início e forçar por volta da metade da prova. E foi o que de fato ocorreu, quando por volta do km 19 para o 20, um atleta de Porto Rico imprimiu um ritmo muito mais forte e se desgarrou do pelotão. Tive cinco segundos para decidir o que fazer, mas não tive duvida e apertei as passadas para não deixá-lo escapar e depois de alguns quilômetros ele já diminuiu o ritmo, então tive a minha oportunidade de mostrar o quanto que estava treinado para aquela prova.

Naquele momento resolvi forçar ainda mais o ritmo por uns 3 km, já imaginando que outros atletas iriam me acompanhar; passados os 3 km dei uma ligeira olhada para trás e nada, não tinham me acompanhado, e era esta a oportunidade que eu queria, uma folga de 1 minuto ou mais, e procurei controlar esta vantagem até os últimos 3 km.

Daquele momento em diante, já com a bandeira brasileira nas mãos e o corpo todo dolorido, o filme retornou a minha mente: dores, dificuldades, incertezas, garra, determinação, amigos, família e esposa.

Tudo parecia um sonho, um sonho que durou exatamente 42,195 metros e de onde fui despertado com a batida da FAIXA DE CHEGADA no peito e com as imagens de PENÁPOLIS e dos COLETORES DE LIXO, que me ajudaram no inicio da minha jornada, todos aos gritos de é OUROOOOO !!!

(*) Solonei Rocha, por e-mail