17/10/2021

Este trabalho foi publicado por uma coletânea de grande valor de Reis de Souza em 1988, na cidade de Brasília, escrito e assinado por mim, Vó Maria, que neste momento compartilho com o 
Diário de Penápolis, se assim desejam...

Contas do Tempo...

...O homem está sempre em um processo de busca! Suas primeiras ferramentas foram suas próprias mãos: com elas desmanchou as pedras, rasgou o chão, capitou as águas, cercou os ventos e dominou o fogo! Conhece todas as vozes da natureza: dos mares, dos ares, dos rios, das aves, dos bichos, das chuvas, dos trovões, dos ventos e do infinito! Sensível – viveu todas as emoções!... Extasiou-se ante os fenômenos e se tornou poeta. Foi determinado e humilde ao lavrar o chão, cultivando para o seu sustento. Construiu casas e cidades – para sua proteção, utilizou a hulha branca para a sua iluminação! Trabalhou minerais e vegetais, adaptando-os a mais genial descoberta dos seus ancestrais: as rodas, para sua locomoção! Foi sábio na comunicação!... Aprendeu a usar os Oceanos!... Conseguiu voar com os pássaros! E senhor destes feitos todos, os seus próprios milagres, quando sentiu a necessidade de mais alimentos.
E Von Liebig com seus nutrientes – básicos minerais, de fórmulas mágicas e próximas, deu-lhe a resposta!... E proveu a todos.
Mas não parou aí!... questionou o desconhecido!... Descobrindo, domesticou o átomo e deu-lhe uma linguagem própria. E a linguagem é a roupa que se veste, disse Duprat! E o homem vestiu de todas as fraquezas e nobrezas universais! Mas passou a tropeçar nas peças – agora, diferentes e incômodas da sua própria montagem: as pílulas anticoncepcionais e a armas nucleares foram as mais sérias! E esse homem passou a se sentir inseguro e só, pela primeira vez.
Foi a Lua... Que decepção!... A beleza e o calor da Lua é uma estátua de bronze.
Indócil – torna-se estranho: cheio de contradições e anseios a sua própria renovação e a transitoriedade das suas paixões: e aí está esse homem!...Dirigindo o mundo sob o saque desmoralizante da Hulha Negra, subsidiária pela própria natura – as vezes em grande profundidade, mas que transborda hemorrágica sobre as urbes edificadas, tornando-as exangues, anémicas, latentes, adormecidas – para não se dizer desfalecidas: paralela à miséria, a fome, e ao crime e ao abandono, que grassa  em desvario.
E tudo tende a sucumbir, agonizar, sufocar sob o próprio peso material e moral, difundindo-se as drogas, corrompendo os valores, mistificando-se os costumes e estravando-se o sexo.
E este homem, mais uma vez, nega-se ante a criação: sente-se vazio e informe, como vazia e informe era a terra antes do gênesis.
E, a compassiva ternura conquistada secular e paciente, através dos tempos – a fragrância das mirras, dos mirtos, incensos e bálsamos, já não mais importarão, e toda beleza espiritual, cultural – acumulada, se esvairá na indulgência desse falso progresso, desvairado numa amorosidade completa!... E tudo tornar-se-á sem sentido, obnubilado pelas CONTAS DO TEMPO, e esse homem será embrulhado nas páginas da própria história. Esse homem que tinha tudo para ser feliz, se soubesse utilizar com racionalidade o seu processo de busca!...

Vó Maria Cândida Virgílio Galli, Penápolis/SP, por e-mail