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CARTA DO LEITOR

01/04/2018

O Pensamento do Clube Militar

Com o passar dos anos, os acontecimentos de ontem nos parecem cada vez menos importantes, esmaecidos na memória e substituídos por outros mais recentes ou mais impactantes para o bem ou para o mal.
Alguns, porém, por mais distantes que estejam no tempo, não perdem seu fulgor e sua nitidez, por serem marcos no desenvolvimento das pessoas ou da sociedade.
É disso que tratamos hoje, ao relembrar na reunião com associados e amigos do Clube Militar, neste já tradicional encontro, os idos de março de 1964, ponto de inflexão definitivo na história pátria, que evitou, pela ação desassombrada dos brasileiros militares e civis que participaram ativamente dos acontecimentos de então, que nosso país se transformasse, como era e ainda é o desejo de alguns, numa grande Cuba.
Passados 54 anos, só os mais velhos dos presentes participaram pessoalmente dos fatos; mesmo assim, em postos e funções próprios de sua, então, pouca idade e experiência.
Mas os livros, a palavra dos mais antigos, a imprensa da época, ainda não corrompida pelo viés esquerdizante do politicamente correto que relativiza e criminaliza todos os êxitos do bom combate e glorifica todas as agressões dos terroristas e guerrilheiros que tentavam a tomada do poder pela força, ainda existem em arquivos públicos e particulares, à disposição dos interessados em conhecer a verdade de 1964.
Os desafios enfrentados pelo Brasil no período 1961 – 1964 são solenemente ignorados nas discussões sobre o assunto. Lembremos rapidamente alguns deles:
- a renúncia de Jânio Quadros;
- a tumultuada posse de João Goulart, eleito com o apoio do PCB ilegal;
- a rápida experiência parlamentarista;
- os movimentos nacionalista-populistas de João Goulart, Leonel Brizola e Miguel Arraes;
- as Ligas Camponesas de Francisco Julião e o apoio cubano ao terrorismo rural das mesmas, que incendiaram engenhos de açúcar no Nordeste e em São Paulo;
- a viagem de Prestes à União Soviética, buscando apoio de Kruchev para a revolução comunista no Brasil;
- os Grupos dos Onze de Brizola, concebidos como base das massas e futuro braço armado do partido revolucionário;
- as indefinidas reformas de base, em eterna mutação e grande bandeira do movimento nacionalista-populista;
- a luta interna pelo poder entre o nacional-populismo de Jango e a manobra revolucionária comunista de Prestes;
- o grevismo descontrolado, fomentado pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), organização sindical ligada ao governo e ao PCB, que paralisava o país numa onda infindável de greves políticas e de solidariedade a outras greves, sob a omissão interesseira do governo;
- em 1963, a anarquia começa a atingir as Forças Armadas, como comprova a Rebelião dos Sargentos em Brasília, em 12 de setembro;
- finalmente, em 1964, os passos finais da tentativa de golpe de estado do presidente João Goulart, visando à sublevação dos militares e à derrocada final das instituições democráticas, já tão enfraquecidas – os três acontecimentos que puseram em cheque a hierarquia e a disciplina, pilares das instituições militares: o Comício da Central do Brasil, em 13 de março; o Motim dos Marinheiros, em 25 de março; e a Reunião no Automóvel Clube, em 30 de março.
Poucas horas depois, a reação dos militares: as tropas começam a descer de Minas Gerais.
A esquerda golpista, engasgada em sua própria propaganda, acreditou numa força que não tinha. Vivendo na mentira, intoxicou-se com a mesma e não soube separar desejos da realidade.
Anos depois, beneficiados pela anistia, os banidos de 64 voltaram ao país e organizaram novamente a tomada do poder, conquistando-o pelas urnas e aplicando no governo a teoria gramscista, para transformar a sociedade e eternizar-se no poder.
Para tal, aparelharam a máquina estatal, inchando-a e ocupando-a com seus sequazes.
E roubaram, roubaram muito, como nunca se vira antes em qualquer lugar.
Como resultado do saque aos cofres públicos, a Petrobras despencou de oitava maior empresa do mundo para algum ponto além do 120º lugar.
Outras empresas estatais e autarquias, loteadas entre a profusão de partidos em busca da “governabilidade”, também foram levadas à falência, enquanto os partidos e políticos envolvidos no assalto e protegidos pela impunidade do foro privilegiado enriqueciam com as propinas pagas por grandes empresas em troca de favorecimento em licitações, aditivos sem fim aos contratos de obras públicas, isenções fiscais e legislação convenientemente acertada.
O escândalo resultou nos processos do Mensalão e da Operação Lava-Jato, que começaram a passar a limpo o Brasil, sempre enfrentando a resistência da corja de beneficiados pela corrupção que, bem instalada na máquina pública, tudo faz para alterar a legislação e safar-se do braço da lei.
Ao relembrarmos os acontecimentos de 1964, é preciso permanecer atentos às tentativas de demonizar os patriotas que salvaram a nação do domínio comunista e dos desonestos que continuam a buscar as benesses do poder a qualquer custo.
Aos que lutaram em defesa do país em 1964, nossa admiração e respeito; aos que hoje se empenham em nos livrar dos assaltantes do erário, nosso aplauso e reconhecimento.
Mas não nos iludamos. Os ataques aos militares que participaram do duro combate ao comunismo não cessaram nem cessarão.
Recentemente, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou pedido ao STF solicitando a reabertura do caso Rubem Paiva, com o intuito de retomar a discussão sobre o alcance da Lei da Anistia e, com certeza, canonizar os terroristas e criminalizar os agentes da lei e da ordem que os combateram, com a violência recíproca e necessária.
Na mesma linha de revisão do passado, uma juíza de Minas Gerais determinou que as praças e ruas internas das vilas militares da área sob sua jurisdição tenham seus nomes trocados, no caso de homenagearem autoridades ou combatentes que lutaram o bom combate e evitaram que nos tornássemos uma grande e miserável Cuba.
Até mesmo o decreto de intervenção federal meia-sola na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, onde há “áreas liberadas” sob controle das milícias e dos traficantes, nas quais a polícia só entra combatendo, não deixa de ser uma tentativa de jogar as tropas federais numa missão que pode ser impossível, dependendo do apoio que o interventor tenha de vários órgãos dos três poderes, não apenas da área da segurança, que estão naturalmente envolvidos no problema e não estão sob sua autoridade.
Nas velhas fortificações portuguesas dos tempos coloniais, quando o graduado ou oficial de ronda se aproximava dos postos das sentinelas, gritava: “Sentinela, alerta!” – ao que a sentinela respondia: “Alerta estou! ”
Como então, nós, as sentinelas da Pátria, permaneçamos alerta!

por Gen. Clovis Purper Bandeira, Editor de Opinião do Clube Militar, 26 de Março de 2018

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