11/02/2016

Quarta-feira de Cinzas?

Se o bloco carnavalesco “O Galo da Madrugada” nas ruas de Recife, sempre anuncia com antecipação o início do Carnaval aos quatro ventos da vastidão deste país tropical, para que o opulento e roliço Rei Momo e sua rainha de silhueta perfeitamente nos trinques, abram esta festa dita da alegria e dos prazeres da carne, reinem divertindo-se com seus súditos as delícias dos dias que duram este evento, onde rolam o profanismo, entre drogas, bebedeiras, prostituição, nudez explicitas, desentendimentos que misturam-se aos coloridos de confetes, serpentinas, paetês ao som de marchas, enredos, desfiles e mil formas de extravasar e esquecer as dificuldades do   cotidiano turbulento e impreciso que o Brasil vem passando nestes últimos meses e então este famoso galo da madrugada está dando os últimos acordes antes que a aurora anuncie o raiar de um novo dia, por sinal uma quarta-feira de cinzas, dando assim como final o carnaval de 2016. Quarta-feira de cinzas, que traz o primeiro dia da Quaresma do calendário cristão ocidental simbolizando para uma reflexão sobre o dever de conversão e mudanças de vida recordando a passagem transitória, efêmera fragilidades da vida humana por este planeta lembrando-nos que cinzas são os destroços ou resíduos do que foi destruído, e que do pó nós viemos para o pó voltaremos, culminando com a ressurreição de Cristo por ocasião da Páscoa. Fazendo um comparativo os dias de folia carnavalesca onde a população transcende do real para o irreal, transvestem-se no luxo das fantasias sentindo-se na importância e no prazer de serem figuras mitológicas, históricas como reis, rainhas, lordes e toda aristocracia, escondendo-se as carências reais de cada um, e nesta quarta-feira caem as suas máscaras e fantasias e sentirem a realidade dos fatos,voltando para os seus barracos apinhados em morros, seus bolsos vazios pelo desperdício e novamente começarem uma vida de incertezas nesta república de corrupção, de desvios do dinheiro público e verem os seus sonhos dourados esfacelarem na realidade da vida de um país de terceiro mundo, sem uma forma efetiva de educação, sem uma garantia de uma saúde perfeita, sem uma estrutura de empregos dignos, sem uma consistências em estradas transitáveis, confortáveis e seguras, sem uma segurança que garanta o nosso dia-a-dia, enfim voltamos a estaca zero e ficarmos vendo as manchetes dos jornais estamparem sobre o empurra-empurra, sem solução, de quem é o culpado pelas maiores orgias e escândalos de Lava Jato, Petrobras, metrôs e tantas outras que encheram as burras da indecência da falta de comprometimento dos políticos para com o desenvolvimento do país, e enquanto isso começa-se um período de abstinência de carne, mas nem era preciso com o preço do produto nas alturas vai ser fácil não comer carne.

José Maria do Valle, Penápolis/SP, por e-mail