05/04/2023

O desmantelamento cultural

O que seria Cultura? Cultura é o cultivo daquilo tudo que já foi trabalhado no passado por outros humanos e que por ser notoriamente bom ou útil deve ser cultivado ou cultuado. 
Cultura vem de “cultus” que é: “aquilo que já foi cultivado ou trabalhado”. Com a transformação das sociedades e a ampliação contínua pelas gerações, as Culturas foram se consolidando e engrossando suas dimensões, diversificações e fusões através da passagem de conhecimento, hábitos e costumes retidos. A tendência era sempre a preservação e a continuidade daquilo que era notoriamente bom, belo, importante, essencial, verdadeiro, complexo, inteligente, efetivo, eficiente e eficaz fosse retido e aprimorado. Podemos fazer uma analogia a “agri+cultura”, a agricultura já nos diz muito sobre a essência do que vem a ser Cultura para tudo o mais: “cultura do campo”. Muitos conhecimentos foram herdados de outras gerações, não estamos começando do zero, muito pelo contrário, cada ano que passa acumula-se mais conhecimento. 
Logo a Cultura é tudo que se mantém entre os homens porque existiu e simplesmente persistiu nas memórias, hábitos e costumes básicos de determinados povos, ou porque foi propositalmente e deliberadamente conservado por sua importância, necessidade e valor. 
Portanto, Cultura é tudo: Linguagem, Idiomas, Comportamento, Hábitos, Costumes, Tradições, Artes, Esportes, Culinária, Moda, Arquitetura, Engenharia, Medicina, Economia, História, Psicologia, Filosofia, Leis Crimes Superstições, Política, Instituições, Organizações, Relacionamentos, tudo! Remover a Cultura inteira de um homem é como largá-lo desde pequeno e para toda a vida nu numa caverna com gorilas e lobos cuidando dele, e mesmo assim, não deixaria de ter uma “cultura”, esta adquirida dos animais e dos ambientes que o formaria. Pois, mesmo sendo um homem primitivo, preservaria na memória emoções, sentimentos, sensações e aprendizados por experiência. 
Pelo outro lado a Cultura desce até as coisas mais comuns, costumeiras e banais do nosso dia a dia, podemos dizer, que foi cultivado pela dialética do mal: gibis, vandalismos, pornografia, xingamentos, gírias, desenhos, modalidades de crime, técnicas de enganar no trabalho, piadas, grau de dependência estatal, moeda, variedade de drogas e seus tráficos, lendas urbanas, corrupção social, político e econômico, tributação e sua assimilação, excesso de açúcar nas bebidas, e muito mais coisas que se originam de nós. 
A Cultura da Civilização Ocidental foi claramente a que mais influenciou, pautou ou transformou beneficamente as sociedades da Terra como um todo, é a mais sólida e substancial existente e que foi formada e transformada através dos séculos pela predominância da Moral Judaico-Cristã, pela Filosofia Grega Pós-Socrática e pelas bases do Direito Romano. Então a palavra “Cultura” sugere, simultaneamente o “cultivo” e “culto” do que há de melhor. Devemos guardar o que é bom, belo, justo, inteligente e verdadeiro, mas a mera existência do mau, feio, injusto, burro e mentiroso acompanha todas as Culturas existentes no imo de cada um dos humanos. Sem dúvida nenhuma, a primeira ideia que temos quando falamos em cultura é a transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra. 
A cultura é a maneira de pensar, viver e agir que definem um povo e fundamentam suas realizações, a cultura é moral e os hábitos que uma mãe se esforça para incutir em seus filhos, é os padrões que estabelecemos a aplicamos para nós mesmos e para os outros; nossas definições de dever, honra e caráter. É a nossa consciência coletiva. 
Logo, sem uma Cultura não há como entender e nem imaginar todas as fórmulas éticas e enunciados linguísticos que possam existir para tentar descrevê-los. E foi por meio da Guerra Cultural que se iniciou o Desmantelamento Cultural. 
O “cultivo” e o “culto da maldade, da feiura, da mentira e da injustiça foi o início a uma “nova cultura”, esse novo romantizar rebaixou o homem ao pensamento primitivo, revelou a sua nudez e o fez quase um animal. É através da Arte um dos seguimentos mais atacados por esses idealistas românticos da “nova cultura”, pois, as Artes fazem um papel fundamental, primordial para atingir o mais profundo da alma, da psique, das emoções, dos sentimentos, das sensações e dos julgamentos humanos. Tanto para o bem quanto para o mal. Para aquilo que é belo e feio, inteligente e burro, justo e injusto, verdade e mentira. 
Não apenas através da arte fizeram um “culto” a feiura; a arquitetura também se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso ambiente físico que se tornou feio. Nossa linguagem, nossa música e nossas maneiras estão cada vez mais rudes, egoístas e ofensivas; como se a beleza e o bom gosto não tivessem nenhum lugar real em nossas vidas. Estamos perdendo a beleza e há um risco de que, com isso, nós percamos o sentido da vida. 

(*) Marcus Vinicius da Silva Dias é Presidente do PTB Penápolis e Vice-Presidente do Instituto Antônio Vieira

Marcus Vinicius (*)